3 KPIs para medir a eficiência de uma fábrica de ração
- Helen Faria

- 29 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de jun.
Imagine um trator potente, novo, reluzente, mas que está rodando com o freio de mão puxado. Ele até se move, mas seu potencial está sendo desperdiçado. Essa é a imagem que muitas fábricas de ração enfrentam hoje: estruturas robustas, investimentos altos, mas sem métricas claras que apontem onde estão perdendo tempo e — principalmente — dinheiro.
Em um cenário cada vez mais competitivo, onde margens estão cada vez mais apertadas, a eficiência operacional se tornou uma questão obrigatória. Não basta produzir: é preciso produzir bem, com inteligência, e de forma sustentável (principalmente pensando em estratégias do futuro).
Eficiência: mais do que uma meta, uma cultura
A eficiência de um negócio está diretamente ligada à sua saúde financeira. Quanto mais eficiente, maior a margem, menor o desperdício, e maior a capacidade de reinvestir no próprio crescimento. Com fábricas de ração, isso não é diferente. Na verdade, é ainda mais crítico, dado o volume de produção, a complexidade dos processos e a exigência crescente dos clientes – que são produtores rurais cada vez mais informados e exigentes.
Observamos que o crescimento de uma fábrica normalmente começa pelo time comercial, que abre portas, conquista mercados e fideliza clientes. Porém, a retenção e expansão só acontecem quando o que foi prometido no campo se realiza dentro da fábrica. É aqui que a eficiência vira moeda forte.
E, para medir eficiência de verdade, não podemos depender apenas da "sensação" de que está tudo indo bem. Precisamos de números. Indicadores. KPIs.
O que são KPIs e por que você deve acompanhá-los?
KPI é a sigla para Key Performance Indicator, ou Indicador-chave de Desempenho. São métricas estratégicas que permitem medir, comparar e melhorar os resultados da fábrica com base em dados reais.
Mais do que estatísticas bonitas em uma planilha, os KPIs certos funcionam como bússolas. Eles mostram para onde a fábrica está indo, e se esse caminho leva ao crescimento ou ao colapso.
Vamos então aos três principais KPIs para medir a eficiência de uma fábrica de ração:
1. Eficiência de Produção
O que é:
Esse KPI mede o quanto a fábrica conseguiu produzir em relação ao tempo total disponível — ou seja, quanto do tempo de fábrica aberta, realmente foi utilizada a estrutura.
Esse KPI mede o quanto a fábrica conseguiu produzir em relação ao tempo total disponível — ou seja, indica quanto do tempo em que a estrutura esteve disponível foi, de fato, aproveitado para gerar produto. Ele mostra o grau de utilização da fábrica como um todo, considerando todos os turnos, horas disponíveis e recursos à disposição.
Por que é importante:
Ele oferece uma visão macro da operação. Muitas vezes, mesmo com bons equipamentos e equipe treinada, o aproveitamento total é baixo por má organização, excesso de setups ou baixa carga de trabalho (comercial não está puxando o suficiente).
Pense numa fazenda com irrigação automatizada. O sistema foi programado para funcionar 24h, mas só irrigou por 11h no dia porque não tinha água no reservatório. O sistema existe, mas o potencial não foi aproveitado.
Como calcular:
(Total produzido no período / capacidade de produção ideal no tempo total disponível) x 100
Exemplo prático:
Se sua fábrica poderia produzir 1.000 toneladas em 200h de trabalho, mas entregou apenas 650 toneladas, sua eficiência de produção foi de 65%.

Acima, temos um exemplo de monitoramento da eficiência de produção ao longo do ano. É possível observar períodos de queda, como em fevereiro e março, que merecem investigação mais aprofundada. As causas podem ser diversas — desde variações sazonais e mudanças no perfil de consumo no campo, até questões internas da operação. Em casos como esses, a demanda pode diminuir temporariamente, impactando diretamente o volume produzido pela fábrica.
2. Eficiência de Processo
O que é:
Esse KPI mede o quanto foi produzido em relação ao tempo disponível para produção real — ou seja, já descontando paradas programadas, manutenções obrigatórias, limpezas necessárias, dentre outras paradas.
Por que é importante:
Essa é uma medida da “eficiência operacional líquida”. Aqui, olhamos apenas para o tempo que realmente estava disponível para produzir — e medimos o quanto esse tempo foi bem aproveitado. Essa métrica mostra o quão bem afinados estão os seus processos, turnos, setups e ritmo de produção.
Como calcular:
(Total produzido / capacidade ideal no tempo disponível real) x 100
Ou seja, quanto se produziu em relação ao que deveria ter sido produzido no tempo produtivo.
Exemplo prático:
Se uma fábrica teve 180h efetivas de produção, e poderia ter produzido 900 toneladas nesse tempo, mas produziu 765, a eficiência de processo foi de 85%.

No gráfico acima, acompanhamos o comportamento da eficiência de processo ao longo de um ano em uma fábrica. Observamos que a meta de 80% foi alcançada em praticamente todos os meses, com alguns pontos de atenção em fevereiro, março e em outubro. Para análises mais detalhadas dessas quedas, utilizamos nossa ferramenta de monitoramento, que inclui análises de paradas planejadas e não planejadas, que é a OEE (Overall Equipment Effectiveness). É fundamental que essa análise seja feita de forma semanal — ou até mesmo diária — para que qualquer desvio possa ser identificado e corrigido rapidamente, evitando que um problema pontual se transforme em uma tendência ao longo do ano.
3. Paradas não planejadas
O que é:
São todas as interrupções de produção não programadas, geralmente causadas por falhas mecânicas, elétricas ou operacionais inesperadas.
Por que é importante:
Sua análise é fundamental, pois revela onde a fábrica está perdendo seu recurso mais valioso: o tempo. Quando gerenciamos bem as paradas não planejadas, conseguimos reduzir desperdícios operacionais e, como consequência, aumentamos a lucratividade do negócio. Afinal, o “tempo” dentro da fábrica é o bem mais valioso!
Exemplo real:

No gráfico acima, analisamos os motivos de paradas não planejadas em um dia selecionado aleatoriamente. Identificamos que 10% do tempo total em que a fábrica esteve aberta foi perdido com manutenção corretiva, em função de uma quebra. Além disso, outros 6% do tempo foram desperdiçados por falta de matéria-prima na moagem, o que interrompeu o fluxo produtivo. Com esses dados em mãos, conseguimos tomar decisões mais assertivas para elaboração de um plano de ação corretivo — atuando diretamente nas causas que mais impactam a eficiência da fábrica.
Por que esses três KPIs funcionam juntos?
A eficiência de produção mostra se a fábrica está aproveitando o tempo total disponível para produzir.
A eficiência de processo revela a performance real nos períodos em que a fábrica estava de fato apta para produzir.
As paradas não planejadas mostram os principais ladrões desse tempo produtivo, e onde a gestão deve agir com mais agilidade.
Esse trio oferece uma leitura precisa e poderosa da saúde da operação. Mais do que medir, esses KPIs orientam decisões, justificam investimentos e ajudam a criar um ambiente de melhoria contínua.
CONCLUSÃO:
Ser eficiente não é simplesmente "fazer mais com menos". É saber onde atuar, quando agir e por que mudar. A eficiência começa com consciência, se estrutura com dados e se consolida com cultura.
Se você é gestor ou proprietário de uma fábrica de ração, comece hoje mesmo a olhar para esses três indicadores com mais atenção. Eles não são apenas números: são espelhos fiéis do que acontece entre a entrada da matéria-prima e a saída do produto que alimenta os animais – e sustenta o seu negócio.
A pergunta é: sua fábrica está operando no automático ou está afinada como uma máquina de precisão?


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